sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Áreas Protegidas: Pensar o Parque Nacional


«A criação do Parque Nacional da Peneda-Gerês (Decreto-Lei n.º 187/71, de 8 de Maio) visou a realização nessa área montanhosa de um planeamento capaz de valorizar as actividades humanas e os recursos naturais, tendo em vista finalidades educativas, turísticas e científicas. No fundo, tratava-se de conservar solos, águas, a flora e a fauna, assim como preservar a paisagem nessa vasta região montanhosa do no- roeste português».


É desta forma que o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade descreve, na sua página da internet, os objectivos que presidiram à classificação do Parque Nacional da Peneda-Gerês, o único parque nacional do país e candidato às sete maravilhas naturais nacionais, que este Verão esteve a arder intensamente durante mais de uma semana.

Os incêndios vieram (re)colocar a atenção nesta área protegida, fazendo com que as labaredas da política se atiçassem quando no terreno os bombeiros exte-nuados e os populares ainda tentavam travar a progressão das chamas.

Contudo, a questão central no Parque Nacional não se resume aos incêndios e se é preciso mais um Kamov ou Canadair, mas reside em questões muito mais profundas, como os objectivos estratégicos desta área protegida, que tem mais de 70 mil hectares e abrange cinco municípios de três distritos, e o respectivo modelo de gestão, sobre as quais é urgente reflectir.

A experiência mostra que, fundamentalmente, este não é um problema de pessoas. Os directores têm-se sucedido – agora existe a figura do director do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Norte, que tem a seu cargo cinco zonas protegidas, num total de 565 mil hectares – e os autarcas também, mas nem por isso desapareceram alguns focos de crispação. Da mesma forma, também as cores políticas têm mudado e os problemas têm persistido ao longo dos anos.

Numa altura em que os políticos de boa vontade estão preocupados com as gentes da serra, espera-se que seja possível pensar de forma séria sobre o presente e futuro deste espaço, a partir das lições do passado. Sendo esta uma zona que vale sobretudo pelos valores naturais, é também verdade que a população não deve ser desprezada (ainda recentemente o descontentamento saiu à rua em protesto contra o projecto do plano de ordenamento). É que para quem vive longe dos gabinetes do poder não há nada mais irritante do que senhores engravatados que aparecem a ditar proibições e outras tantas obrigações, como se limpar o monte fosse o mesmo que cortar relva do jardim da vivenda de cidade.

Fonte: Correio do Minho

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